Rádio e TV públicas da Grécia são novos alvos da crise
Cheguei a pouco em casa e vi postagens no Facebook de uma amiga minha grega que me deixaram muito espantado. Dizia ela: “Estou triste porque a democracia na Grécia morreu hoje!” O governo acabou de fechar hoje a ERT, Radiodifusão Grega, tornando a Grécia o único país europeu em crise sem estação estatal.
Neste momento no site da emissora só há um escrito dizendo “Voltamos…” e um streaming da TV estatal com notícias sobre o fechamento. São 4 horas da manhã no país e a imagem mostra bastante gente na frente do prédio da rádio e TV com cartazes, em protesto.
Segue notícia que traduzi do Guardian:
O governo da Grécia informou que vai fechar sua emissora estatal, quase imediatamente, planejando reabri-la na forma de uma empresa menor como parte de cortes orçamentários.
O porta-voz do governo Simos Kedikoglou – um ex-jornalista da TV estatal – descreveu a Radioteledifusão Grega, conhecida na Grécia como ERT, como um “porto de desperdício” e disse que o sinal de rádio e TV da empresa acabaria nesta quarta-feira.
Segundo ele os 2500 funcionários da empresa seriam compensados e ela reabriria “o mais breve possível” com uma força de trabalho menor. Não ficou claro, no entanto, quanto tempo isso levaria.
Grandes multidões de funcionários da ERT se reuniram em frente à sede em Atenas, prometendo lutar contra a decisão e pedindo um apagão geral da mídia em protesto. Sindicatos que representam os trabalhadores da ERT em três estações de TV terrestre, uma estação de satélite e sua rede nacional de rádio e regionais disseram que iriam manter as estações no ar. Funcionários que protestavam foram acompanhados por políticos da oposição e líderes sindicais. Ambos os parceiros governamentais minoritários e a coalizão conservadora no poder condenaram a suspensão.
Os trabalhadores ERT decidiram fechar-se no Radiomegaro, o edifício principal da TV grega, e continuar seu trabalho 24 horas por dia. Eles receberam o apoio dos trabalhadores de outras empresas de televisão gregos, que decidiram entrar em greve de seis horas. Enquanto estou escrevendo este post, o sinal de televisão desapareceu, a tela é em preto e os policiais estão expulsando os trabalhadores das repetidoras e transmissores, de modo que eles não podem continuar radiodifusão. Há milhares de pessoas de fora da Radiomegaro defendendo a TV pública.
Kedikoglou disse em um comunicado na televisão estatal: “No momento em que o povo grego passa por sacrifícios, não há espaço para atrasos, hesitação ou tolerância para vacas sagradas (sic).” Os três canais da ERT e os serviços de rádio sairiam do ar depois da meia-noite e seriam relançados em uma data posterior como uma organização mais enxuta, afirmou Kedikoglou.
“A ERT é um exemplo típico de falta de transparência e desperdício incríveis. E isso termina hoje”, disse Kedikoglou. “Ela custa de três a sete vezes mais do que outras emissoras de TV e de quatro a seis vezes com pessoal – para uma pequena audiência, cerca de metade de uma estação privada média.”
É a primeira demissão em messa do setor público na Grécia, que se comprometeu a cortar 15 mil empregos estatais até 2015, como parte de seus compromissos de resgate.
O país, cheio de dívidas, tem dependido de empréstimos de resgate de seus parceiros europeus e do Fundo Monetário Internacional desde maio de 2010. Em troca, foram impostos profundos cortes nos rendimentos e aumentos de impostos, o que exacerbou uma recessão paralisante e obrigou dezenas de milhares de empresas a fechar, fazendo o desemprego alcançar um recorde de 27%.
O POESY, sindicato de mídia grego, acusou o governo de sacrificar a emissora para apaziguar seus credores.
“Os credores estão exigindo demissões no serviço público e o governo, a fim de cumprir as suas obrigações para com os monitores externos, está preparado para sacrificar a empresa pública de radiodifusão”, afirmou o sindicato em declaração.
Fonte: Guardian